Respiração, gás carbônico e sua saúde
ENSAIO - a medicina oficial tem uma dívida histórica com o CO2 como agente medicinal
[Imagem: dzen.ru]
[Este artigo já foi publicado no nosso velho blog do substack ao qual, recentemente, me foi vetado o acesso para postar novas publicações. Dessa forma e para que seja conhecido pelos leitores deste novo blog - intitulado outramedicina2024.substack.com - , faço aqui a republicação do artigo]
A medicina oficial não parece estar bem localizada em relação ao papel terapêutico do gás carbônico [CO2].
Os médicos costumam pensar no CO2 - como argumenta R. Peat - “como “um material de dejeto e tendem a fechar seus olhos e ouvidos quando se menciona os efeitos benéficos do dióxido de carbono”[A].
O que se aprende nas faculdades da área de saúde, basicamente, é que o CO2 é resíduo final da respiração celular, inerte e sem importância.
No entanto, tais efeitos benéficos para a saúde são de suma importância e já foram amplamente estudados.
Os primeiros livros de fisiologia destacavam o papel central do CO2 no organismo. E hoje, é preciso não se informar para poder negar que o CO2 é crítico para a formação óssea, para o relaxamento vascular e vários processos vitais do metabolismoɁ O CO2 é tudo menos um resíduo inerte.
Por exemplo, quando a célula está no seu ótimo metabólico, queimando o açúcar completamente, em seu máximo de energia, ela produz seu maior nível de CO2.
A esse maior status energético corresponde maior produção de CO2.
E é essa presença ou fluxo permanente de CO2, no seu nível ótimo, que assegura o pH saudável do citoplasma, a hidratação adequada da célula, a eliminação de qualquer excesso de cálcio do intracelular. Quando há uma diminuição do fluxo de CO2 sintetizado na célula, este sofrerá um aumento do pH, com o consequente acúmulo de cálcio no intracelular tornando-se este mineral um elemento patogênico.
O CO2 age como um ácido fraco, dissolvendo-se parcialmente na água, garantindo aquele pH saudável e a diminuição do CO2 desencadeia uma mudança iônica no intracelular.
Um dado que consta dos livros de fisiologia, mas pouco lembrado: sem a presença do CO2 no ambiente dos tecidos, no entorno celular, sequer o oxigênio que vem dos pulmões desembarcaria na célula.
Longe de ser inerte, a verdade é que sem o fluxo ótimo de CO2 saindo da respiração celular mitocondrial, a célula - agora sem o pH ligeiramente ácido garantido pelo CO2 -, sofrerá mudanças na consistência do seu semigel intracelular, e começará a acumular água [sobrehidratação]. Seu citoplasma ficará, por assim dizer, mais diluído. Esta excessiva hidratação da célula, agora mais alcalinizada, implicará em hipóxia, queda do oxigênio celular por conta da falta de CO2 para a troca com o oxigênio da hemácia [efeito Bohr]. E desencadeará processos contrametabólicos.
Por exemplo, quando a produção do CO2 declina, isso implica em perda de magnésio de parte da célula [menor formação de ATP].
O CO2 é um anti-inflamatório por natureza, já que, antagonizando com produção de ácido lático, combate qualquer eventual elevação deste, que é invariavelmente indesejável.
Em entrevista por rádio em 2011, ao site East West Healing, R. Peat argumentava que vários hospitais estão admitindo que prejudicaram pacientes [com consequentes óbitos] por oferecerem a eles oxigênio puro, induzindo hiperventilação e que poderiam ter evitado falência pulmonar, danos cerebrais, simplesmente passando a também oferecer CO2 aos pacientes ou adotando técnicas que fizessem com que os pacientes hipoventilassem [acumulassem seu próprio CO2] até certo ponto. [O bicarbonato de sódio pode oferecer CO2 aos nossos sistemas]
E como R. Peat costuma argumentar: níveis mais altos de CO2 significam que a pessoa está oxidando o açúcar completamente, detendo a produção de ácido lático e toda a cadeia de reações inflamatórias daqui decorrentes.
Uma das características da pessoa com hipotireoidismo é sua menor produção de CO2, sua baixa energia. A pessoa com hipotireoidismo, mesmo em repouso, não produz suficiente energia [nem CO2] a partir da queima do açúcar e o motivo é que: parte do açúcar está virando ácido lático. Em vez de ser convertido em CO2.
O CO2 constitui no regulador geral de processos determinantes do meio intracelular, portanto, do metabolismo. Como foi dito acima, ele regula a água celular.
O CO2, por essas e várias outras razões que não são nosso tema aqui, teria que ter seu papel garantido no tratamento de qualquer doença crônico-degenerativa, em especial nos pacientes com hipotireoidismo.
O CO2, além disso, é baratíssimo e substituiria amplamente uma série de procedimentos caros e patenteados, e o faria com vantagens terapêuticas.
E ele é, no real, insubstituível para determinadas funções.
No plano metabólico, o CO2 estabiliza a respiração celular, o ciclo de Krebs, reduz a massa de radicais livres, estimula a formação óssea, reduz a resistência vascular periférica e possui o já citado efeito anti-inflamatório.
Ele age na direção oposta da calcificação indesejável. Retenção de cálcio nos tecidos é uma característica do mau envelhecimento que o CO2 combate.
O CO2 regula sódio, cálcio, magnésio, enfim o movimento dos minerais para dentro e fora da célula. No caso do cálcio, íon extracelular, este não fica retido na célula, se há suficiente CO2 sendo produzido. Ou oferecido aos nossos sistemas.
Ao mesmo tempo, o fluxo celular de CO2 saindo da célula, muda a solubilidade do sódio que, dessa forma, sairá da célula; seu lugar fisiológico é fora, na condição, também o sódio, de íon extracelular.
Oferecer CO2 aos nossos sistemas é um procedimento de proteção à saúde.
E no tratamento da doença crônico-degenerativa, necessário para estimulação do metabolismo.
Isso pode ser feito, parcialmente, por exemplo, como nos ensina R. Peat, respirando na sacola de papel por alguns poucos minutos [esta técnica será tema de outra nota sobre a medicina do CO2 e R Peat]. Também através do banho seco de CO2. Ou, simplesmente, também, treinando uma respiração que permita reter mais CO2.
O mais comum é que muita gente respire pela boca ou que adote, inadvertidamente, uma respiração acelerada. Com isso haverá menos CO2 sendo retido, a pessoa estará hiperventilando.
James Nestor, autor de livro interessante sobre respiração [C], possui um vídeo, que apresentamos a seguir, no qual ele insiste na mesma tecla do R. Peat, isto é, se não aprendermos a respirar corretamente, o resultado será que constantemente perderemos CO2 dos sistemas corporais [com perda de oxigênio em consequência], resultando em crescente e crônico prejuízo para a saúde de uma maneira geral, inclusive a saúde pulmonar. É uma forma de diminuir a ansiedade também.
GM Fontes, Brasília 10-7-23
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos. Nenhuma das notas aqui presentes, neste blog, conseguirá atingir o contexto específico do paciente singular, nem doses, modo de usar etc. Este trabalho compete ao paciente com seu médico. Isso significa que nenhuma dessas notas - necessariamente parciais - substitui essa relação.
Referências __________________
[A] PEAT, R. Buteyko breathing.
[B] PEAT, R, Protective CO2 and aging. Disponível em https://raypeat.com/articles/
[C] NESTOR, James, 2020. Breath: the new Science of a lost art. USA. Publicado em português com o título de Respire.
[D] Você pode assistir ao vídeo de Nestor a seguir [5 ways to improve your breathing].
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