Prolactina – o teste que pode revelar o seu grau de estresse, de estrogenização
Um exame laboratorial muito importante em homens e mulheres que pode, eventualmente, anunciar uma doença grave
[Imagem: mammologycenter\com.ua]
[Ao longo dos próximos dias, republicaremos alguns artigos que saíram no nosso antigo blog OutraMedicina, ao qual, recentemente, me foi vetado o acesso no sentido de publicar novos artigos; de toda forma, em breve retomaremos a publicação de artigos novos e inéditos por aqui, no OutraMedicina2024]
A dosagem de prolactina no sangue é um exame laboratorial que não costuma ser solicitado de rotina. Até aqui, tudo bem.
No entanto, quando alterado, para cima – nosso tema nesta nota – é melhor que você tome conhecimento disso o quanto antes. Para não ter que remediar demasiado tarde e para não ficar no escuro sobre as informações que esse exame ajuda a elucidar.
Suponhamos que, você, homem ou mulher, jovem ou não, recebe o resultado de uma prolactina de 200 ng-ml. Não sendo mulher grávida ou lactante, é melhor começar imediatamente a investigar a causa.
Afinal trata-se de um hormônio hipofisário – portanto, um hormônio central – que, nesses níveis tão elevados pode estar indicando um tumor cerebral ou, mais frequentemente, o uso de um medicamento que está impactando sua hipófise, o que, para dizer o mínimo, não é nada bom.
Mais abaixo, listamos os medicamentos que podem jogar a prolactina nas alturas.
No momento, vejamos seus valores normais, esperados na saúde e, ao mesmo tempo, as doenças – como o hipotireoidismo – que sua alteração, sempre para cima, pode revelar.
Antes, no entanto, lembremos que faixa de referência, de normalidade, quase sempre é um problema, quase nunca é o que o laboratório diz. E uma razão – além da variabilidade entre laboratórios – é que são determinados estatisticamente. Isto é, toma-se uma população, mede-se o resultado e tira-se a média.
Os números encontrados na população tomam aquela forma estatística de curva de sino e, em torno do meio da curva passa a ser escolhida, pelos autores, uma faixa dita “normal”. Com o passar das décadas essa faixa costuma ser alterada, à medida em que novo conjunto de resultados é colhido da população, agora uma população com outro perfil patológico, usualmente bem mais doente, na média. Portanto, em faixas como a da prolactina desconfie daquelas referências muito elásticas.
Um exemplo: hipotireoidismo é uma doença que vem escalando universalmente, especialmente pelo consumo de óleos insaturados, por erros dietéticos e a predominância social do estresse. E hipotireoidismo pode se expressar em prolactina alta. Ora, estatisticamente, mais e mais gente terá uma prolactina alta porque a população está mais enferma. Não é justo jogar a faixa para cima acreditando que reflete normalidade, quando, no real, expressa mais e mais enfermos, puxando a faixa de “normalidade” estatística para cima.
Vejamos a questao fisiológica antes de prosseguirmos com os valores normais.
A prolactina é mais conhecida como o hormônio da lactação, que fica alto quando a mulher está amamentando [ou, no fim da gestação, quando está se preparando para amamentar]. Daí a prolactina sobe até aqueles 200 acima citados. Valor altíssimo.
No entanto, com o avançar dos estudos, já se sabe mais de cem funções que a prolactina cumpre no corpo. Transcende a lactação. O que pouco se fala é que se trata de um hormônio responsivo ao estresse, envolvido com hipotireoidismo, por exemplo.
Aumento da prolactina, por exemplo, suprime a tireoide [A]. O hipotireoidismo implica em aumento da prolactina, já que hipotireoidismo aumenta cortisol, estrogênio.
Da mesma forma, como foi dito, prolactina muito alta pode expressar a intoxicação por um medicamento, tipo drogas psiquiátricas.
Bem importante quando se mede prolactina é lembrar também do estrogênio.
Quando a prolactina se eleva – por exemplo, para 20 ou 30, pode estar indicando uma elevação do estrogênio nos tecidos. É muito difícil medir o estrogênio plasmático. Neste caso, medir prolactina pode fazer a diferença. A prolactina funciona, eventualmente, como marcador indireto do pool de estrogênio corporal.
E estrogênio alto, por sua vez, remete para doenças crônico-degenerativas, para, por exemplo, câncer de próstata.
No caso da gestante: ela vai produzir leite e a prolactina garante que isso aconteça; para isso, esse hormônio arranca dos ossos o cálcio que não vier da alimentação. Logo, prolactina alta, por exemplo, fora da gestação-lactação, pode indicar osteoporose.
Aumento do PTH indica a mesma coisa, já que este hormônio, como aquele, destrói ossos. Moléculas infllamatórias como a serotonina, também aumentam prolactina. Estrogênio aumenta prolactina. Mais estrogênio implica em mais aumento da prolactina, linearmente. Embora nem sempre.
Só pelo que foi argumentado até aqui, já se vê a importância do marcador laboratorial prolactina. Ele vai responder a perguntas que fazemos na avaliação clínica. E, como todo exame, deve ser interpretado.
Uma prolactina elevada pode ser normalizada, por exemplo, corrigindo a tireoide. Assim como hipotireoidismo pode dar – não é obrigatório – prolactina elevada.
Prolactina é acionada no estresse [lembrando que ela pode ser acionada a partir do hipotálamo, portanto, do emocional, mas também a partir da periferia do sistema, por exemplo, por estrogênio alto a partir de um processo inflamatório].
Ora, o envelhecimento é uma modalidade de estresse, crônico e em câmara lenta, por acumulação de hormônios do estresse, portanto, prolactina alta pode aparecer a certa altura do envelhecimento. Indicando elevação de hormônios do estresse.
Prolactina alta, portanto, não é uma boa notícia [e muito elevada, mais de cem, de duzentos, nem se fala, já que nesses níveis, em determinados casos, já se pode pensar em tumor na hipófise].
Voltemos à faixa de referência.
Tomemos um laboratório ao acaso. Que considera – como tantos outros – como normal para homens a faixa abaixo de 20 [sempre ng por ml]. Para mulheres não grávidas e fora da amamentação, seria normal menos que 29, isto é, de 3 a 29. Para as menopausadas, estabelecem menos que 20. Gestantes, menos que 208.
Portanto, um homem com 18 ou 19 de prolactina estaria normal. E uma mulher com 25 também.
Mas aqui estamos diante das tais faixas de referência estatísticas, calculadas em populações enfermas.
O Dr R. Peat opina o seguinte: “observei que nos USA e Canadá, a ´faixa normal´ para prolactina foi estendida para cima depois de um período nos anos 1980, quando era reduzida. Acredito que isso que isso reflete uma mudança na população, em decorrência de aumento do estrogênio e óleos insaturados; mas a faixa menor era melhor para avaliar a saúde”. Ou seja, a faixa antiga, mais estrita, era mais próxima da saúde, da fisiologia, que a atual, estendida.
Muito provavelmente, portanto, uma faixa aceitável para o homem esteja em torno de 5, segundo estudo francês de 2005 [Physiologie de la prolactine, de P Touraine].
Ou, talvez, uma estimativa mais razoável poderia ser de 4-7 para homens e de 10-12 para mulheres [sempre ng por ml].
Seja como for, níveis maiores que 8, para homens já podem estar indicando acumulação de estrogênio nos tecidos. E algum grau de supressão da tireoide, quanto maior seja o valor acima disso. E acima de 12, em mulheres [sempre fora da gestação, já que aqui a placenta secreta prolactina] pode sugerir necessidade de investigação.
Em homens, uma prolactina aumentada, em certo nível, pode dar sintomas do tipo aumento das mamas, diminuição da libido, disfunção erétil, infertilidade, osteoporose.
E quando ela é tão elevada que revela tumor cerebral, pode aparecer dor de cabeça, alterações na visão [por pressão sobre o nervo ótico]; neste caso é hiperprolactinemia primária, isto é, de origem central, hipofisária. Radioterapia pode aumentar prolactina, também insuficiência renal e hepática. Em mulheres, sua elevação pode sugerir um ovário policístico. E em homens e mulheres excesso de exercício físico.
Portanto, hipotireoidismo e o uso de determinados medicamentos é a primeira preocupação em relação a prolactina alta. E prolactina alta traduz estrogênio alto. E estresse, o que inclui serotonina alta.
Esse é o básico.
Uma prolactina elevada, por sua vez, pode ser tratada normalizando a tireoide. E em certos casos com o uso de um derivado do ergot tipo lisuride, bromocriptina. Ou, eventualmente com um ciclo curto de suplementação de vitamina B6 [que vai operar, neste caso, como agonista da dopamina].
Lembrando que a prolactina pode estar alta no dia seguinte à relação sexual, nesse caso não indicando nada de anormal. Aliás os laboratórios deveriam advertir sobre esse ponto [aumento da prolactina fisiológico após o sexo].
A lista de medicamentos que elevam a prolactina inclui:
Antidepressivos: fluoxetina, paroxetina, alprazolam
Antipsicóticos-epilepsia: clorpromazina, levomepromazina, haloperidol, risperidona, olanzapina, quetiapina, sulpirida.
Anti-hipertensivos: reserpina, atenolol, verapamil, metildopa
Gastrointestinais: metoclopramida, ranitidina, cimetidina, domperina, cisaprida.
Opiáceos e cocaína.
G Dantas [Publicado originalmente em 28-3-23]
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos. Nenhuma das notas aqui presentes, neste blog, conseguirá atingir o contexto específico do paciente singular, nem doses, modo de usar etc. Este trabalho compete ao paciente com seu médico. Isso significa que nenhuma dessas notas - necessariamente parciais - substitui essa relação.
Referências ____________________
[A] STRIZHKOV, V V, 1991. [Metabolism of thyroid gland cells as affected by prolactin and emotional-physical stress] [Article in Russian] Probl Endokrinol (Mosk) . 1991 Sep-Oct;37(5):54-8. “A study was made of the role of prolactin (PRL) in the regulation of thyroid function in intact animals and in those exposed to stress (swimming was used as physical exercise). A single daily dose of 125 micrograms of PRL per 100 g of body mass was injected subcutaneously in 0.5 ml of saline solution during a week to male rats (control: intact rats; injection of 0.5 ml of saline solution subcutaneously). Redox enzymes; succinate dehydrogenase, lactate dehydrogenase, glucose-6-phosphate dehydrogenase, NAD.H2 and NADP.H2, ATPase and monoamine oxidase, total protein, RNA and glycogen in glandular cells were investigated histochemically 24 h after the last injection of PRL or saline, 30 min., 1, 2, 3, 5 and 7 hours after swimming or right after complete fatigue (in the presence of experimental hyperprolactinemia). A conclusion has been made that one of the most important mechanisms of the adaptive effect of PRL is its ability to suppress thyroid function, thus decreasing the metabolism level, which results in reduction of oxygen consumption and improves body tolerance to stress”. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/1780295/
A supressão da tireoide é um mecanismo de defesa diante do estresse, e cumpre o papel de diminuir o metabolismo, poupar-se diante da agressão, aumentar a tolerância ao estresse.
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