Isoflavonas na menopausa: um risco sem qualquer benefício?
A medicina costuma recomendar a soja, por exemplo, na menopausa: algum ganho para a mulher?
[Imagem: freepik.com]
[Ao longo dos próximos dias, republicaremos alguns artigos que saíram no nosso antigo blog OutraMedicina, ao qual, recentemente, me foi vetado o acesso no sentido de publicar novos artigos; de toda forma, em breve retomaremos a publicação de artigos novos e inéditos por aqui, no OutraMedicina2024]
Fitoestrógenos, isto é, substâncias estrogenizantes sintetizadas pelas plantas [como a genisteína e dadzeína da soja] são isoflavonas muito usadas pela medicina, inclusive a chamada medicina alternativa, para tratar problemas hormonais nas mulheres, como TPM, menopausa e afins.
O que são os fitoestrógenos?
Uma categoria de compostos difenólicos não esteroidais, sintetizados por plantas, com propriedades funcionais e biológicas semelhante à do estrogênio. Muitas isoflavonas estão nessa categoria. A soja é muito rica nelas [F].
Segundo a Wikipédia – neste caso, com razão – “um fitoestrógeno (ou fitoestrogênio) é um xenoestrógeno, composto difenólico derivado de plantas, não gerado dentro do sistema endócrino, mas consumido pela ingestão de plantas fitoestrogênicas. Também chamado de "estrógeno dietético", é um grupo diverso de compostos vegetais não esteroidais de ocorrência natural que, devido à sua semelhança estrutural com o estradiol (17-β-estradiol), têm a capacidade de causar efeitos estrogênicos e/ou antiestrogênicos.
Os fitoestrógenos não são nutrientes essenciais porque sua ausência na dieta não causa doenças, nem são conhecidos por participarem de qualquer função biológica normal.
[...] Foi levantada a hipótese de que as plantas usam um fitoestrógeno como parte de sua defesa natural contra a superpopulação de animais herbívoros, controlando a fertilidade feminina [D][E]. Na verdade inibindo-a [GMF].
As semelhanças, em nível molecular, de um estrógeno e um fitoestrógeno permitem que eles imitem levemente e, às vezes, atuem como um antagonista do estrógeno.
Os fitoestrógenos foram observados pela primeira vez em 1926, mas não se sabia se eles poderiam ter algum efeito no metabolismo humano ou animal. Na década de 1940 e no início da década de 1950, percebeu-se que algumas pastagens de trevo subterrâneo e trevo vermelho (plantas ricas em fitoestrógenos) tinham efeitos adversos na fecundidade de ovelhas em pastejo. [As ovelhas se tornavam estéreis, GD].
[…] As principais classes destes compostos são as isoflavonas, ligninas e cumestanos. As isoflavonas têm uma distribuição restrita no reino das plantas, sendo limitada à subfamília Papilionoideae das leguminosas como alimentos à base de soja.
As mais pesquisadas são as isoflavonas comumente encontradas na soja e no trevo vermelho. Lignanas também foram identificadas como fitoestrógenos, embora não sejam flavonóides.
Na dieta humana, os fitoestrógenos não são a única fonte de estrógenos exógenos. Os xenoestrógenos (novos, feitos pelo homem), são encontrados como aditivos alimentares e ingredientes, e também em cosméticos, plásticos e inseticidas. Ambientalmente, apresentam efeitos semelhantes aos fitoestrógenos, dificultando a separação clara da ação desses dois tipos de agentes em estudos realizados em populações” [Wiki].
Portanto, isoflavonas são fitoestrógenos, assim como ligninas, cumestanos e outros tipos de metabólitos do reino vegetal. Mas nem toda isoflavona é fitoestrógeno. Assim como é importante lembrar que há fitoestrógenos – caso mais raro – que inibem o estrogênio.
Como explica R. Peat [Pollution – Herb Doctors, R. Peat], o fato de uma substância se ligar ao receptor estrogênico não significa que irá agir como estrogênio-like. Pode até - embora raramente - ter o efeito oposto, inativando a proteína do receptor.
Por outro lado, substâncias chamadas de fitoestrógenos podem apenas estar inibindo ou estimulando a produção celular de energia.
Tipicamente, o estrogênio age baixando a oferta/consumo de oxigênio nas células.
Qualquer substância que, nesse sentido, possa “sufocar” a célula, privá-la de oxigênio, é estrogenizante, em seu sentido mais lato, amplo.
O aumento de estrogênio no corpo não é apenas um problema de receptor estrogênico. Se a célula é injuriada ou privada em algum grau do oxigênio, o receptor estrogênico é ativado, vai agir como se o estrogênio estivesse presente. Existe essa via dupla. O próprio estresse, pelo aumento do cortisol, promove aumento do estrogênio.
Feita essa longa introdução, estamos diante do fato de que há substâncias do reino vegetal, os fitoestrógenos e outras, que estão na nossa alimentação ou que são usadas na fitoterapia, e que agem – na maior parte das vezes – promovendo o estrogênio ou o efeito estrogênio. A planta Vitex é uma das exceções.
Pois bem, as substâncias estrogenizantes das plantas vêm sendo propostas por médicos para tratar a menopausa, TPM e sintomas clínicos derivados.
Não tem qualquer fundamento, já que o estrogênio está por trás desses problemas – portanto; por que aumentar a pressão estrogênica sobre um corpo já tão estrogenizando que está adoecendo por isso?
No entanto, isso não é tema para a medicina e seus congressos, que estão tensionados pela venda de derivados patenteados do estrogênio, pela reposição de estrogênio na menopausa e outras estratégias. Além de abençoarem os fitoestrógenos.
Cientista polonês [A], seguindo o mainstream, propõe o uso de plantas estrogênicas no tratamento dos sintomas da perimenopausa, por exemplo.
Este absurdo se deve ao fato de que ele abraça a lenda médica de que a menopausa “está associada à redução de estrogênio endógeno”; esta queda é que seria a fonte dos problemas femininos na menopausa e na TPM.
Ou seja, supondo, erradamente, que a causa desses problemas femininos seria a queda do estrogênio, propõe o uso terapêutico de plantas estrogenizantes, portadoras de fitoestrógenos.
Estamos neste caso diante de uma espécie de terapia de reposição hormonal com o hormônio errado [já que estrogênio está na base desses problemas da mulher] e pela via vegetal. Inclusive de vegetais ofensivos para nossa saúde como soja.
No entanto, grande acúmulo de trabalhos científicos demonstrou que usar fitoestrógenos com essa finalidade não dá certo. Já que, como foi mencionado, o problema tem origem estrogênica...
Por exemplo, LAGARI [2014][B] demonstrou que “a maioria dos estudos apontam na direção da falta de eficácia das isoflavonas derivadas da soja ou do trevo vermelho, mesmo quando usadas em altas doses, seja na prevenção dos fogachos, como também na perda óssea da menopausa. E destaca que, justamente “as isoflavonas da soja são os fitoestrógenos mais utilizados nas mulheres menopausadas” [B].
Portanto, uma “reposição hormonal” que traz mais riscos para a saúde, com beneficio zero.
Mas continua sendo prescrita por médicos e até usadas em alimentos para “fortalecê-los”. E louvada pelo mundo “alternativo” que, igualmente, anistia a soja de seus terríveis efeitos sobre a saúde humana.
O pesquisador independente G Dinkov, explica [vídeo #62: Diabetes | CO2 | Mineral Balancing? | Coenzyme Q10 | Cognitive Capture | Parathyroid Hormone] que cumestrol e várias das cumarinas são fortemente estrogenizantes. E fala da genisteína da soja, agonista do receptor de estrogênio.
Genisteína tem praticamente a mesma afinidade para o receptor estrogênico que o alfa-estradiol. Genisteína está na soja, dessa forma consumir soja é ingerir um potente estrogenizante, tão forte quanto o estradiol. Um copo de leite de soja traz de 50 a 70 mg de tais isoflavonas [mais do que um homem produz por dia de estrogênio]. Como alguém pode ignorar isso quando defende o consumo de derivados da soja em humanos?
E, no entanto, a farra da soja continua em alta.”Cerca de 35% dos norte americanos afirmam consumir alimentos e bebidas à base de soja pelo menos uma vez por semana, de acordo com o estudo Consumer Attitudes about Nutrition (Atitudes do Consumidor na Nutrição) 2019, do Comitê para o Grão de Soja (1). É difícil nos dias de hoje evitar a soja em uma dieta tipicamente norte americana— ela pode ser encontrada em tudo, desde carnes processadas, margarina, chocolate e cereais até o leite de soja”[G].
Outro autor, LEVIS [2011] também estudou as isoflavonas e chegou à mesma conclusão: não funcionam contra sintomas da menopausa, incluindo perda óssea.
Na experiência científica [LEVIS, 2011], ofereceram por dois anos, isoflavona da soja para um grupo e acompanharam com grupo placebo [grupo controle].
As usuárias do estrogênio da soja [200 mg/d] apresentaram muito mais sintomas tipo fogachos e prisão de ventre do que o grupo que não usou isoflavona. E também mais perda óssea no pescoço do fêmur, coluna vertebral. Esse estudo pôs por terra qualquer indicação da isoflavona da soja em mulheres com quadro clínico de menopausa. Ao menos teoricamente, devia ter posto por terra.
Mas continuam utilizando esse estrogênio vegetal todo o tempo, mesmo com falta de evidências de que traga algum benefício às mulheres. Ficando evidente, dessa forma, que a medicina atual tombou sob o véu negro de “consensos” terapêuticos, por mais que a ciência produza trabalhos todo o tempo na linha do dissenso, do contraditório. Um fenômeno muito comum, especialmente em anos recentes.
G Dantas [Originalmente publicado em 7-3-2023]
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos. Nenhuma das notas aqui presentes, neste blog, conseguirá atingir o contexto específico do paciente singular, nem doses, modo de usar etc. Este trabalho compete ao paciente com seu médico. Isso significa que nenhuma dessas notas - necessariamente parciais - substitui essa relação.
Referências: _______
[A] DROSDZOL, A, SKRZYPULEC, V, 2004. [Phytoestrogens--an alternative to hormonal replacement therapy] [Article in Polish]. Wiad Lek . 2004;57 Suppl 1:74-7. “Perimenopausal period is associated with the reduction of endogenous estrogens which might lead to many disorders of general health in women. Traditional hormone replacement therapy (HRT) is effective for controlling vasomotor symptoms and reducing the risk of cardiovascular disease and osteoporosis in postmenopausal women. However, according to the latest studies, many women are reluctant to initiate this therapy because of concerns regarding the benefits and risks considering contraindications and side effects of it. Therefore, a lot of studies were carried out to find the influence of phytoestrogens on menopausal symptoms. Phytoestrogens are defined as naturally occurring compounds, found in plants; they have a variety of activities: estrogenic and antiestrogenic. Could phytoestrogens be used as an alternative to hormonal therapies for the management of menopausal symptoms?” Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15884209/
[B] LAGARI, V S, LEVIS, S, 2014. Phytoestrogens for menopausal bone loss and climacteric symptoms. J Steroid Biochem Mol Biol . 2014 Jan;139:294-301. doi: 10.1016/j.jsbmb.2012.12.002. Epub 2012 Dec 14. “Women have always looked for non-hormonal options to alleviate menopausal vasomotor symptoms and prevent menopausal bone loss. The use of complementary and alternative medicine for these purposes has particularly increased after the publication of the Women's Health Initiative's results suggesting that there might be more risks than benefits with hormone replacement. Phytoestrogens are plant-derived estrogens that, although less potent than estradiol, bind to the estrogen receptor and can function as estrogen agonists or antagonists. Soy isoflavones extracted from soy are the phytoestrogens most commonly used by menopausal women. Because typical Western diets are low in phytoestrogens and taking into account the general difficulty in changing dietary habits, most clinical trials in Western women have used isoflavone-fortified foods or isoflavone tablets. Although some women might experience a reduction in the frequency or severity of hot flashes, most studies point towards the lack of effectiveness of isoflavones derived from soy or red clover, even in large doses, in the prevention of hot flashes and menopausal bone loss. This article is part of a Special Issue entitled 'Phytoestrogens”. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23246986/
[C] LEVIS, S, STRICKMAN-STEIN, N, 2011. Soy isoflavones in the prevention of menopausal bone loss and menopausal symptoms: a randomized, double-blind trial. Arch Intern Med. 2011 Aug 8;171(15):1363-9. doi: 10.1001/archinternmed.2011.330. Background: Concerns regarding the risk of estrogen replacement have resulted in a significant increase in the use of soy products by menopausal women who, despite the lack of evidence of the efficacy of such products, seek alternatives to menopausal hormone therapy. Our goal was to determine the efficacy of soy isoflavone tablets in preventing bone loss and menopausal symptoms. Results: After 2 years, no significant differences were found between the participants receiving soy tablets (n = 122) and those receiving placebo (n = 126) regarding changes in bone mineral density in the spine (-2.0% and -2.3%, respectively), the total hip (-1.2% and -1.4%, respectively), or the femoral neck (-2.2% and -2.1%, respectively). A significantly larger proportion of participants in the soy group experienced hot flashes and constipation compared with the control group. No significant differences were found between groups in other outcomes. Conclusions: In this population, the daily administration of tablets containing 200 mg of soy isoflavones for 2 years did not prevent bone loss or menopausal symptoms. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21824950/
[D] Delmonte P, Rader JI (2006). «Analysis of isoflavones in foods and dietary supplements». Journal of AOAC International. 89 (4): 1138–1146. PMID 16915857
[E] Brown D, Walton N (1999). Chemicals from plants: Perspectives on plant secondary products. [S.l.]: World Scientific Publishing. pp. 21, 141. ISBN 978-981-02-2773-9
[F] “Soy isoflavones are made up of genistein, daidzedin, and other lesser soy metabolites. Whole soy beans have equal amounts of genistein and daidzedin, while the soybean germ has four times as much daidzedin as genistein. All commercial soy isoflavones are attached to sugar molecules, which may make up as much as 50% of the isoflavone”. [https://www.urmc.rochester.edu/ob-gyn/ur-medicine-menopause-and-womens-health/menopause-blog/march-2015/is-soy-a-remedy-for-menopausal-symptoms.aspx]
[G] TOLER, S, 2019. Comer soja afeta os seus hormônios? Disponível em: https://helloclue.com/pt/artigos/cultura/comer-soja-afeta-os-seus-hormonios
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