Azul de metileno: ” para que não nos esqueçamos de você” [Parte I]
Uma substância que promove, em low dose, a respiração celular oxidativa, impactando terapeuticamente várias doenças.
[Imagem: myaquaclub.ru]
[Ao longo dos próximos dias, republicaremos alguns artigos que saíram no nosso antigo blog OutraMedicina, ao qual, recentemente, me foi vetado o acesso no sentido de publicar novos artigos; de toda forma, em breve retomaremos a publicação de artigos novos e inéditos por aqui, no OutraMedicina2024]
Azul de metileno é, praticamente, a primeira droga farmacológica sintética conhecida [de importância], e possui uma longa história de em torno de 120 anos em diversas aplicações médicas, também como corante e reagente [C].
Já é fato muito conhecido o efeito estimulante do azul de metileno em baixas doses sobre a nossa enzima respiratória mais importante, a citocromo oxidase; esse seu poder sobre a mais poderosa enzima respiratória leva essa substância a ter efeito terapêutico contra o comprometimento da memória e do aprendizado e em problemas de hipo-perfusão sanguínea cerebral [D].
“Azul de metileno é uma droga muito bem estabelecida, com uma longa história de uso, por conta do seu amplo espectro de uso e seu perfil de mínimos efeitos colaterais.
Em seus primeiros tempos, ele foi usado para o tratamento da malária, metahemoglobinemia e envenenamento por monóxido de carbono, assim como corante histológico”[A].
“No entanto, seu papel na mitocôndria, tem deflagrado muito do renovado interesse pelo azul de metileno nos anos recentes.
Azul de metileno tem o poder de reorientar elétrons na cadeia de transporte de elétrons da mitocôndria, diretamente de NADH para a citocromo C [...] efetivamente promovendo atividade mitocondrial ao mesmo tempo em que mitiga o estresse oxidativo.
A isso, isto é, à proteção mitocondrial, se soma seu efeito conhecido e robusto em aliviar neuroinflamação.
E uma vez que disfunção mitocondrial já foi identificada como um fenômeno patológico unificando um amplo leque de doenças neurodegenerativas, esse elemento posiciona azul de metileno como uma terapêutica promissora.
Tanto in vivo quanto in vitro, azul de metileno demonstrou impressionante eficácia em mitigar neurodegeneração e seus sintomas em modelos animais, em condições como derrame, isquemia cerebral global, Alzheimer, Parkinson e lesão traumática cerebral” [A].
Um fato importante é que a molécula de azul de metileno possui características muito peculiares na esfera da semelhança com as moléculas da vitamina K, da coenzima Q10 e da tetraciclina, todas elas dispondo de grande capacidade de mobilizar elétrons, tanto adotando uma forma reduzida quanto uma forma oxidada conforme o ambiente.
É uma molécula tireoide-like, por outro lado. Tem efeito primário de diminuir a fadiga e aumentar a energia. Sendo usado em vários cantos do mundo em pessoas cuja taxa metabólica está em declínio, o azul de metileno carrega a marca de promotor da produção de energia.
O azul de metileno é um conhecido indicador de óxi-redução.
Essa versatilidade ou capacidade de passar de uma forma para outra, liberando elétrons, permite que essa molécula possua capacidade terapêutica incomum ou singular.
Na condição de poderoso estimulante metabólico, importante estimulador cerebral, o azul de metileno pode ser usado como neuroprotetor, inclusive no já citado Alzheimer, além de possuir poderosa atividade antiviral e antipatógenos. Também possui as propriedades de um anti-inflamatório de amplo espectro [pode ser usado junto com AAS para este objetivo]. Preventivo de Alzheimer, Parkinson, o azul de metileno opera para restaurar o fluxo de elétrons que estará alterado na doença degenerativa.
Existe vasta literatura sobre o azul de metileno [que reuniremos em outra nota].
Em emergências tipo choque hipovolêmico o azul de metileno é utilizado, e neste caso em dose alta costuma ter efeito imediato.
Em situação de choque, portanto na UTI, a dose usada de 400 mg é altíssima [e adequada se sob controle médico], em comparação com a dose usual mencionada por R. Peat de 1 a 2 mg por dia.
Azul de metileno é um poderoso varredor do oxido nítrico. Daqui decorre sua ação no choque, pelo bloqueio da produção do óxido nítrico; este é uma molécula patogênica, inflamatória, imunossupressora, que atua no choque e que é neutralizada pelo azul de metileno.
O notório efeito colateral do azul de metileno quando em dose alta, é o de aumentar a pressão arterial. Por inibição da enzima monoamino oxidase, MAO. Em algumas pessoas isso pode ocorrer mesmo na dose de 15 mg por dia, mas dificilmente isso se dará na dose de 1-2 mg por dia.
Essa reação será mais evidente em pessoas que usam drogas psiquiátricas do tipo SSRI drugs [inibidores da recaptação da serotonina; inibidores da MAO; seus efeitos negativos, serotoninérgicos, serão potencializados].
Existe, sempre, a resposta individual, por isso há estudo em humanos, para casos de doença grave, onde se usou 5 mg 3 vezes ao dia sem efeitos colaterais evidentes. Em outros, a resposta pode ser diferente; é preciso avaliar caso a caso com seu médico.
Estamos nos referindo sempre ao uso tópico, o preferido quando se pretenda evitar a primeira passagem da droga pelo fígado [permitindo, portanto, via uso tópico, que ela alcance os sistemas mais rapidamente]. E estamos supondo um produto sem aditivos tóxicos, somente assim confiável.
Também em alta dose tem a possibilidade – indesejável - de inibir o sistema GABA, portanto aumentando serotonina, originando, dessa forma certo mal estar, eventualmente cefaleia. [Sobre os males da serotonina ver aqui e aqui]. Depende novamente da reação individual.
Sobre aquela enzima, a MAO ou monoamino oxidase, ela é mitocondrial externa e catalisa a degradação de diversas aminas, inclusive serotonina, nor-adrenalina e dopamina. Não a queremos inibida.
Sinais de toxicidade serotoninérgica [por eventual inibição da MAO]: ansiedade, dor de cabeça, febre e eventualmente um surto de hipertensão; sempre em caso de dose alta ou hipersensibilidade individual. Portanto, dose alta tem potencial de risco desse tipo.
Drogas que inibem a MAO, podem ter como efeito aumentar a concentração de tiramina [esta presente em alimentos fermentados do tipo vinhos e queijo envelhecido]. Cuidado, então, ao usar azul de metileno com consumo, ao menos na mesma refeição, de parmesão, também chocolate, carne defumada, peixe; o problema será a tiramina, que potencializará efeitos colaterais do azul de metileno. Também se usado junto com café – por outras razões - pode dar algum desconforto [pode precipitar a toxicidade da MAO-A].
Por outro lado, como já foi mencionado, o produto, azul de metileno, deve ser puro, sem conservantes ou aditivos e o que importa não é o número de gotas, mas o total de miligramas que se usa por dia, de forma a garantir a adequada low dose. Via tópica e com uso de frutose via oral, por exemplo, suco de laranja [já que o impulso à produção de energia do azul de metileno vai demandar, metabolicamente, açúcar].
A persistência do azul de metileno na pele, por longo tempo, pode indicar que aquela região do corpo necessitava dele: por estar reduzida, do ponto de vista de elétrons, e a ação terapêutica do azul de metileno, no caso, terá sido imediatamente bem-vinda.
A mancha do azul de metileno aparentemente só desaparece quando é reduzida pelo corpo no processo de conversão de NADH para NAD. Estudos mostram que 6 horas é o cut off entre saúde e doença, isto é, se a mancha permanece para além das 6 horas, a pessoa provavelmente está dando um sinal de boa energização.
Considerando que a maioria das pessoas costuma estar em estado reduzido [em termos de elétrons], o papel oxidante do azul de metileno compre uma função terapêutica, lado a lado com a capacidade de aumentar energia celular, e com a capacidade de derrubar a produção do indesejável óxido nítrico.
Azul de metileno melhora estados de pressão arterial baixa. Melhora função mitocondrial. Melhora Alzheimer e Parkinson. Combate hipóxia dos tecidos [o que pode ser verificado, em tempo real, pela saturação de oxigênio, SpO2, no oxímetro].
Já foi mencionado: o azul de metileno promove a atividade da principal enzima da queima oxidativa do açúcar. É preciso levar sempre em conta que toda doença crônico-degenerativa tem a ver com fluxo de elétrons – com essa enzima - e o azul de metileno, precisamente, atua nessa esfera.
Ele melhora a saturação de oxigênio do corpo. Tem efeito restaurador no sistema nervoso central. Contra degeneração neural. Aumenta o consumo de oxigênio das células, aumentando a produção de CO2, inibindo lactato.
A vida média do azul de metileno no cérebro já foi descoberta, e está na ordem de 30 horas, muito mais então do que as 5 horas de meia vida no plasma.
Dessa forma, tomar azul de metileno repetidamente durante o dia por vários dias pode promover concentração cerebral do produto muito mais alta do que a encontrada no plasma, segundo G Dinkov. Novamente, segundo também este autor, não se deve ir com o azul de metileno, além da baixa dose [low dose].
Azul de metileno também possui alguns efeitos nootrópicos e naquela dose de 1 mg dia deve, segundo Dinkov, estimular biogênese mitocondrial e consumo de oxigênio em uma semana. Maioria das pessoas vêm benefícios após duas semanas de uso.
Se for usar em uma mancha, um ferimento, é importante deixar a região azul o maior tempo possível, para garantir a absorção. Uso tópico de azul de metileno em ferimento [inclusive cirúrgico], cobrindo a ferida e indo uns 30 minutos à luz do sol [ou red light] pode ser curativo.
Por sua vez, há quem argumente que tomar azul de metileno e ficar 30 minutos no sol pode funcionar como terapia fotodinâmica, usada para muitas doenças incluindo certos patógenos e câncer [é importante buscar a literatura que existe respeito]. Assim como é importante checar, sempre, a veracidade de informações que existem sobre os poderes do azul de metileno circulando na blogosfera.
Outras propriedades. Azul de metileno é antiestrogênio. E pode melhorar o sono. É antagonista de endotoxinas. Azul de metileno sinergiza com vitamina B3; ambos aumentam proporção de NAD/NADH.
Azul de metileno pode ser usado em resfriado, afecções de vias aéreas superiores, e, eventualmente, pode trazer alívio rápido a congestões nasais. Tem efeito anti-inflamatório e antiviral. Em caso de forte virose há quem utilize, nos dias da enfermidade, aquela dose de 15 mg por dia.
Como regra, é importante entender mais sobre o azul de metileno, dosagens etc. - e sobre o produto do mercado - antes de pensar em utilizá-lo.
Enfim, azul de metileno é um prato feito para você discutir horas com seu doutor e avaliar seu uso, dose e também se precaver de eventuais efeitos colaterais; procurando tirar proveito do seu poder terapêutico.
Azul de metileno tem vários nomes, inclusive cloreto de metiltionímio e cloreto de tetrametiltionina.
G Dantas [Publicado originalmente em Brasília 26-4-2023]
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos. Nenhuma das notas aqui presentes, neste blog, conseguirá atingir o contexto específico do paciente singular, nem doses, modo de usar etc. Este trabalho compete ao paciente com seu médico. Isso significa que nenhuma dessas notas - necessariamente parciais - substitui essa relação.
Referências ___________________
[A] TUCKER, D, LU, Y, 2018. From Mitochondrial Function to Neuroprotection-an Emerging Role for Methylene Blue. Mol Neurobiol . 2018 Jun;55(6):5137-5153. doi: 10.1007/s12035-017-0712-2. Epub 2017 Aug 24. PMID: 28840449 PMCID: PMC5826781 DOI: 10.1007/s12035-017-0712-2 “Methylene blue (MB) is a well-established drug with a long history of use, owing to its diverse range of use and its minimal side effect profile. MB has been used classically for the treatment of malaria, methemoglobinemia, and carbon monoxide poisoning, as well as a histological dye. Its role in the mitochondria, however, has elicited much of its renewed interest in recent years. MB can reroute electrons in the mitochondrial electron transfer chain directly from NADH to cytochrome c, increasing the activity of complex IV and effectively promoting mitochondrial activity while mitigating oxidative stress. In addition to its beneficial effect on mitochondrial protection, MB is also known to have robust effects in mitigating neuroinflammation. Mitochondrial dysfunction has been identified as a seemingly unifying pathological phenomenon across a wide range of neurodegenerative disorders, which thus positions methylene blue as a promising therapeutic. In both in vitro and in vivo studies, MB has shown impressive efficacy in mitigating neurodegeneration and the accompanying behavioral phenotypes in animal models for such conditions as stroke, global cerebral ischemia, Alzheimer's disease, Parkinson's disease, and traumatic brain injury. This review summarizes recent work establishing MB as a promising candidate for neuroprotection, with particular emphasis on the contribution of mitochondrial function to neural health. Furthermore, this review will briefly examine the link between MB, neurogenesis, and improved cognition in respect to age-related cognitive decline.
[B] ATAMNA, H KUMAR R, 2010. Protective role of methylene blue in Alzheimer's disease via mitochondria and cytochrome c oxidase. J Alzheimers Dis . 2010;20 Suppl 2:S439-52. doi: 10.3233/JAD-2010-100414. PMID: 20463399 DOI: 10.3233/JAD-2010-100414 “The key cytopathologies in the brains of Alzheimer's disease (AD) patients include mitochondrial dysfunction and energy hypometabolism, which are likely caused by the accumulation of toxic species of amyloid-beta (Abeta) peptides. This review discusses two potential approaches to delay the onset of AD. The first approach is use of diaminophenothiazines (e.g., methylene blue; MB) to prevent mitochondrial dysfunction and to attenuate energy hypometabolism. We have shown that MB increases heme synthesis, cytochrome c oxidase (complex IV), and mitochondrial respiration, which are impaired in AD brains. Consistently, MB is one of the most effective agents to delay senescence in normal human cells. A key action of MB appears to be enhancing mitochondrial function, which is achieved at nM concentrations. We propose that the cycling of MB between the reduced leucomethylene blue (MBH2) and the oxidized (MB) forms may explain, in part, the mitochondria-protecting activities of MB. The second approach is use of naturally occurring osmolytes to prevent the formation of toxic forms of Abeta. Osmolytes (e.g., taurine, carnosine) are brain metabolites typically accumulated in tissues at relatively high concentrations following stress conditions. Osmolytes enhance thermodynamic stability of proteins by stabilizing natively-folded protein conformation, thus preventing aggregation, without perturbing other cellular processes. Experimental evidence suggests that the level of carnosine is significantly lower in AD patients. Osmolytes may inhibit the formation of Abeta species in vivo, thus preventing the formation of soluble oligomers. Osmolytes are efficient antioxidants that may also increase neural resistance to Abeta. The potential significance of combining MB and osmolytes to treat AD are discussed”.
[C] SCHIRMER, R H, ADLER, H, 2011. "Lest we forget you--methylene blue...". Neurobiol Aging . 2011 Dec;32(12):2325.e7-16. doi: 10.1016/j.neurobiolaging.2010.12.012. Epub 2011 Feb 12. PMID: 21316815 DOI: 10.1016/j.neurobiolaging.2010.12.012 “Methylene blue (MB), the first synthetic drug, has a 120-year-long history of diverse applications, both in medical treatments and as a staining reagent. In recent years there was a surge of interest in MB as an antimalarial agent and as a potential treatment of neurodegenerative disorders such as Alzheimer's disease (AD), possibly through its inhibition of the aggregation of tau protein. Here we review the history and medical applications of MB, with emphasis on recent developments”.
[D] AUCHTER A M BARRETT D W, 2020. Methylene Blue Preserves Cytochrome Oxidase Activity and Prevents Neurodegeneration and Memory Impairment in Rats With Chronic Cerebral Hypoperfusion. Front Cell Neurosci . 2020 May 20;14:130. doi: 10.3389/fncel.2020.00130. eCollection 2020. PMID: 32508596 PMCID: PMC7251060 DOI: 10.3389/fncel.2020.00130 “Chronic cerebral hypoperfusion in neurocognitive disorders diminishes cytochrome oxidase activity leading to neurodegenerative effects and impairment of learning and memory. Methylene blue at low doses stimulates cytochrome oxidase activity and may thus counteract the adverse effects of cerebral hypoperfusion. However, the effects of methylene blue on cytochrome oxidase activity during chronic cerebral hypoperfusion have not been described before. To test this hypothesis, rats underwent bilateral carotid artery occlusion or sham surgery, received daily 4 mg/kg methylene blue or saline injections, and learned a visual water task. Brain mapping of cytochrome oxidase activity was done by quantitative enzyme histochemistry. Permanent carotid occlusion for 1 month resulted in decreased cytochrome oxidase activity in visual cortex, prefrontal cortex, perirhinal cortex, hippocampus and amygdala, and weaker interregional correlation of cytochrome oxidase activity between these regions. Methylene blue preserved cytochrome oxidase activity in regions affected by carotid occlusion and strengthened their interregional correlations of cytochrome oxidase activity, which prevented neurodegenerative effects and facilitated task-specific learning and memory. Brain-behavior correlations revealed positive correlations between performance and brain regions in which cytochrome oxidase activity was preserved by methylene blue. These results are the first to demonstrate that methylene blue prevents neurodegeneration and memory impairment by preserving cytochrome oxidase activity and interregional correlation of cytochrome oxidase activity in brain regions susceptible to chronic hypoperfusion. This demonstration provides further support for the hypothesis that lower cerebral blood flow results in an Alzheimer's-like syndrome and that stimulating cytochrome oxidase activity with low-dose methylene blue is neuroprotective”.
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